O CONTEXTO QUE PROVOCOU O PROJETO

A Casa de Irmãos

Comunidade Terapêutica para recuperação da dependência química, acontece na Fazenda Senhor Jesus em  Cachoeiras de Macacu- RJ.  Nasceu de uma demanda registrada nos eventos sociais da ACVM em São Cristovão-RJ, mais precisamente nos jantares oferecidos às quartas-feiras para população em situação de rua e moradores das comunidades carentes da cidade do Rio de Janeiro. Em pesquisa interna e amostra recente, podemos afirmar que  70 % são homens e 60% sofrem com a dependência das drogas e estão em situação de rua por longo tempo.   A Casa de Irmãos acolhe os irmãos que buscam ajuda em nossa unidade sede onde é ofertado um pouco de dignidade e inicio do processo de triagem para todos aqueles que desejam o tratamento em nossa Fazenda.

A população em situação de rua

 A sociedade contemporânea convive com diferentes questões sociais aprofundadas pelo processo de globalização e precarização das relações de trabalho. A situação de rua é uma questão que vem sendo discutida por diferentes políticas públicas, tendo em vista a complexidade e a necessidade de intervenção dos diversos campos, como saúde, assistência social, habitação, educação, dentre outros. As pessoas em situação de rua convivem constantemente com a não garantia e acesso aos direitos sociais conquistados pela constituição federal de 1988, constituindo-se assim como sujeitos a margem de uma sociedade que exclui e estigmatiza. De acordo com a Política Nacional de Inclusão social da população em situação de rua é possível considerar que este grupo, mesmo na sua heterogeneidade, apresenta algumas características em comum, sendo definido como um grupo populacional heterogêneo que apresenta em comum a pobreza, o rompimento de vínculos familiares, vivência de um processo de desfiliação social pela ausência de trabalho assalariado e das proteções advindas deste vínculo, sem moradia convencional regular e tendo a rua como o espaço social, de moradia e sustento. O termo “população em situação de rua”, utilizado em documentos oficiais do estado brasileiro, abrange um conjunto de significados que contempla um grupo bastante heterogêneo, como os andarilhos, trecheiros, pardais, dentre outros sujeitos que fazem da rua seu principal espaço de convivência. Marcam sua relação com a rua segundo  parâmetros temporais e identitários diferenciados, vis-a-vis os vínculos familiares, comunitários ou institucionais presentes e ausentes. É comum que estabeleçam no espaço público da rua seu palco de relações privadas, o que os caracteriza como ‘população em situação de rua’.

A dependência química

Segundo a OMS, as drogas são todas as substâncias químicas, naturais ou sintéticas, que pode ser utilizada com diferentes finalidades entre elas: obter sensações de bem estar ou alívio de tensões cotidianas. Ao serem introduzidas no organismo modifica suas funções, provocando assim alterações psíquicas e físicas para aqueles que a consomem, podendo levar tal individuo a dependência física ou psicológica. Especialistas e leigos explicam o uso de drogas como uma ‘fuga’ de algum tipo de realidade que o usuário supostamente considera opressiva ou insuportável (Becker, 2007). A realidade de pessoas em situação de rua é constantemente difícil, as dificuldades que são contínuas geram exaustão tanto física quanto psicológica, diante da realidade vivenciada as substâncias psicoativas são geralmente utilizadas com a tentativa de fugir das dificuldades cotidianas. A droga atua no organismo como um estímulo prazeroso, gerando assim mudanças no cérebro, mais precisamente nos neurotransmissores, que são responsáveis pela comunicação entre os neurônios. Este sistema de recompensa proporciona uma falsa felicidade, e um falso prazer e propicia ao usuário um afastamento temporário da realidade, tornando-se uma via de gratificação imediata. O uso de drogas pode estar voltado para uma fuga para se transpor naquilo que o sufoca (Ferreira; Marx, 2017). O consumo de substâncias psicoativas pode ser considerado como um aspecto cultural das massas, o qual representa igualmente um sentimento de falta de sentido, que ocorre como resultante das frustrações diante as necessidades existenciais (Frankl, 1946/2010). Para Delmanto (2013), a justificativa dada pelo uso de drogas se dá mediante as faltas que o mundo impõe assim os usuários acabam optando concomitantemente por fugir dele.